Evoé, terráqueos! O XV Festival de Artes de Goiás (uma realização do IFG), com o tema “Risco” (Fase 3), teve imensa satisfação de acolher, em 22/9, o Teatro Oficina Uzyna Uzona – há mais de 60 anos na vanguarda da contracultura – com a estreia do espetáculo “Avá – Até Que Os Ventos Aterrem”.
Trata-se de um OAVNI (objeto audiovisual não identificado), sci-fi às avessas que propõe uma “insurreição terráquea” e nunca uma fuga-d-o-mundo. Uma obra que explora paisagens inéditas e expande o conceito de teatro filmado ou de filme experimental. Com 63 minutos de duração, este OVNI cinematográfico-dramatúrgico e foi realizado no período pandêmico, com recursos da Lei Aldir Blanc, com filmagens no célebre território do terreiro eletrônico do Oficina no bairro do Bexiga/SP.
A estréia do espetáculo (que fica em cartaz somente até 29/9) foi precedido por um debate instigante com artistas integrantes do Oficina Uzyna Uzona: @cafirazoe, @camilamota e @mariliagallmeister conversaram com os professores @constantinoisidoro e @educarlidemoraes – 1h45 min, assista em https://www.youtube.com/watch?v=LR0yItm88E0 ou no player abaixo.
Assista à programação completa das 3 fases do XV Festival de Artes de Goiás – que também recebeu Chico César, Mônica Salmaso, Teatro Carmin, João Portinari, além da mostra InspirArte (14 sessões permanentes disponíveis ao público ) acessando o canal IFG Comunidade (youtube.com/ifgcomunidade)!
Precedendo a estréia do espetáculo “Avá – Até Que Os Ventos Aterrem” , do Teatro Oficina/SP, o XV Festival de Artes de Goiás – Risco (Fase 3) promoveu um debate com as artistas da companhia: Cafira Zoé, Camila Mota e Marília Gallmeister, com mediação dos professores Eduardo Carli de Moraes e Constantino Isidoro (inclui tradução em libras). Apreciem:
AVÁ – 1ª PROFECIA
https://www.youtube.com/watch?v=ffNxL_AKwpU
já viu AVÁ?
então vá VER
até dia 29/09 no festival de artes de goias:
https://youtu.be/JTLflrAmhxE
“nós, forças geológicas de toda a terra, irrompemos agora e conclamamos aos povos, de todas as espécies: misturem-se a nós! já temos notícias das primeiras retomadas e outras chegam em abundância! estamos atingindo a marca dos 5 mil graus celsius e subindo, ferro e níquel passam bem! daqui do centro da terra, estamos reluzentes, as placas tectônicas estão prestes! a alegria é imensa em poder voltar aos deslocamentos. de diferentes pontos da terra, já é possível ver as cordilheiras, montanhas e cânions respirando. o olho da áfrica se abriu e partem dele redemoinhos de vento pros quatro cantos do mundo e também para as suas curvas. recebemos com muita satisfação a boa nova: os oceanos expurgaram todas as resinas! a biosfera se regenera em franca movimentação. matilhas inteiras se direcionam para os grandes centros urbanos, está também previsto para daqui a dois dias um grande estouro da boiada mundial. as maritacas também estão felizes, falam muito e na altura que gostam. a costa da índia, se vista de cima, é um chão branco-inteiriço: 1 bilhão de ovos de tartaruga são chocados pela areia quente, o sol e a água do mar. parece que em recife, famílias inteiras de cavalos-marinhos estão parindo neste exato momento. a baía de guanabara se recupera e já celebra o gozo das águas cristalinas. em são paulo, o minhocão foi engolido pelo cinturão verde guarani que cresce sem freio. o parque do rio bixiga gritou que não era parque, mas pomar! é diferente! e gera comida pra toda gente que passa e para os que ficam também. é possível ver a serra dos órgãos de dentro de todas as casas – alguns humanos, parece, já se mudaram para as sacadas e levaram travesseiros para os para-peitos das janelas. as escolas de samba nunca estiveram tão cheias. veneza nunca foi tão feliz. em minas gerais. o pico do cauê começa a nascer de novo como os tentáculos de um polvo. as águas do são francisco são agora caudalosas correntezas de cura e o paraopeba e o bixiga, o saracura! levantes explodem em todas as regiões, os rios soterrados foram os primeiros a estourar os bueiros e partir as ruas ao meio, jorram tão alto que encontram as águas dos rios que correm acima da nossa cabeça. os lábios se encontram, quentes, e se roçam e roçam as línguas em palavras novas a amazônia consegue respirar sem obstruções, não é mais pulmão de ninguém, mas dela mesma os alvéolos foram desinflamados! as aves silvestres e as selvagens os carcarás e também as harpias sobrevoam todos os céus e cada asa é uma lâmina de liberdade. brasília!… não existe mas os congressos das águas não param! os corpos se namoram apaixonados no meio da chapada e o planalto gargalha aliviado e brinca com o pantanal no meio da floresta. a soja finalmente conseguiu se aposentar. milharais formam verdadeiros arco-íris na terra e barraventos atravessam os continentes sem barreiras pela primeira vez e lambem a pele dos povos, os lábios das crianças e os troncos das árvores. os minérios não são mais importunados e as montanhas podem gestar suas pedras em paz não há mais cercas! é a retomada da terra”
AVÁ
primeira profecia
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TEATRO OFICINA PROPÕE INSURREIÇÃO TERRÁQUEA – Outras Palavras
“Podemos dizer que se trata de uma ficção científica às avessas. Desde Julio Verne até as aventuras farsescas de bilhardários excêntricos como Elon Musk e Jeff Bezos, passando pelos inúmeros seriados e filmes do gênero no século XX, criou-se o imaginário da fuga da terra como a perspectiva predominantemente hegemônica do futuro da humanidade. AVÁ é um poema sobre a re-versão desse imaginário. Da ficção científica para a re-ligação com a terra. Porque nunca deixamos de ser gente, bicho, mata, água e terra” – Diego Arvate, da Pulsar Filme
Fotos por Jennifer Glass
Publicado em: 25/09/21
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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